8 de março de 2021

O balanço desta semana foi positivo. Senti uma necessidade de ter alguma coisa para dizer e não poder esperar pelas perguntas do outro lado, como se tivesse de justificar o porquê de estar ali. Durante toda a sessão, sempre que dizia que eu estava a fazer tudo bem e que parecia ter tudo controlado, senti que não devia estar ali. Que não tinha razões para isso e que podia estar a tirar a vez a alguém. No entanto, na minha cabeça faz todo o sentido estar a ser acompanhada por alguém, embora ainda não tenha chegado à parte de revelar o que sinto. A restrição das sessões ao tema da pandemia fazem-me retrair e achar que não devo falar de outras coisas, mas nesta sessão quase nem falamos da pandemia. Falamos da alimentação e de estar a traçar um plano positivo e a conseguir cumpri-lo. Principalmente, de conseguir falhar sem me culpar, ou sem achar que é uma falha. Ficou o compromisso de avisar caso seja selecionada amanhã, e o compromisso de contar se fiz ou não exercício durante esta semana. Por dentro, fica o compromisso de me tentar analisar melhor e perceber a principal razão de ter procurado ajuda. Falamos da relação por alto e da possibilidade de ter companhia para fazer exercício. Ficou por dizer que isto é tudo novo para mim e que não me sinto à altura de uma relação tão duradoura. Que estou a fazer alguém perder tempo quando eu não sei o que quero para mim. Ficou por dizer que, embora esteja à procura de emprego, não sei no que quero trabalhar, o que quero fazer. Ficou por dizer que tenho medo de sair da zona de conforto do emprego que já consegui e que era para ser temporário. Ficou por dizer que a todo o momento acho que me vão dispensar porque não precisam de mim e porque esperavam que eu ficasse menos tempo, que agora talvez seja uma pedra no sapato que não têm coragem de tirar. Ficou por dizer que talvez eu não seja assim tão boa naquilo que acho que é "a minha área" e que isso seja só um capricho. Ficou por dizer que não sei no que sou realmente boa ou que não faço a mínima ideia de quem sou. Isso reflete-se na quantidade de vezes que quero destralhar o armário, na quantidade de roupa que adoro e passado uns tempos não uso, na indecisão em remodelar o quarto e na falta de coragem para prender o espelho à parede com medo de não gostar no dia seguinte, na quantidade de projetos que tenho na cabeça e que não saem do papel porque, na realidade, eu quero ser tudo e não sou nada. Ficou por agradecer. Embora saiba, durante toda a semana, que aqui dentro não está nada resolvido e que o caos é a minha zona de conforto, nos dias de sessão fica a sensação de que tudo está controlado e que talvez não precise assim tanto de ajuda. Auto-sabotagem, talvez.

1 de março de 2021

Hoje falamos sobre a semana passada. O balanço semanal foi curto porque os dias também o são. Não há muito a fazer enquanto nada se fizer, e os dias passam iguais aos outros, sem que nada aconteça. E ainda bem, por um lado. Falamos sobre a rotina do sono, que eu tanto recalcava e tentava não adormecer. Não posso dizer que tivesse medo de sonhar porque os sonhos são estranhos, mas não maus. Parece que vivo num filme onde estamos sempre a saltar de cena em cena e tudo acontece ao mesmo tempo, mas não me posso queixar. Não me atormentam estes sonhos. Nesta semana que passou consegui adormecer mais cedo. Consegui cumprir aquilo a que me comprometi e adormeci a horas normais, para acordar mais cedo no dia seguinte e poder equilibrar o dia. Comi bem em todos os dias da semana e isso enche-me de orgulho. O plano principal é não ceder à auto-sabotagem e fazer tudo para me sentir melhor comigo mesma, como já não sentia há muito. Fazer um esforço para gostar de mim passa por me esforçar para me alimentar bem e dormir a horas. Passo a passo, havemos de conseguir. Ajuda bastante saber que alguém do outro lado está a torcer para que consigamos. Não estou sozinha. O próximo passo é saber existir e ficar bonita para gostar de mim. Ainda tento passar despercebida e fingir que não existo. Para a próxima semana, ficou a promessa de escrever mais.

4 de julho de 2020


Tenho nojo de mim. Olho ao espelho e não sei quem sou, embora saiba que há solução. É isso que dói. Dói saber que há solução e que não me mexo porque é como se não valesse a pena. Como se a sensação de nojo pudesse perdurar, mas sei que estou a entrar num caminho perigoso do qual será difícil sair mais tarde. Tento compensar com o intelecto e sou obcecada pelo conteúdo. Obcecada com reconhecimento e ser a melhor em qualquer coisa que faça quando, na verdade, nem me esforço o suficiente para ser a melhor a ser eu. Tenho nojo de mim quando passo num espelho e escondo-me atrás de roupas pretas que, por vezes, preferia que fossem rosa. O que dói é que sei tudo isto - dizem que ter noção do que passamos é meio caminho andado para encontrar uma solução -, conheço a solução mas não a consigo levar avante. Não consigo passar mais de dois dias a cuidar de mim. É como se o meu corpo sentisse que não mereço e a minha mente me tentasse sabotar. Auto-sabotagem define os meus dias nos últimos tempos. Auto-sabotagem ao deitar por terra todos os mínimos esforços que faço e auto-sabotagem ao dizer-me que qualquer coisa é melhor do que eu. Qualquer pessoa faz o que eu faço e não sou especial em nada. Não há razão para mostrar ao mundo, o que já existe nele em quantidades exageradas. Não acrescento nada ao mundo nem a qualquer nicho. O meu corpo diz que não vale a pena sair do sofá e a minha cabeça diz que não vale a pena fazer nada. Não vale a pena. Porque, no fundo, o que eles querem dizer é que não valho a pena e que o nojo traz conforto. Mas não traz. Traz dependência e uma entrada num buraco ao qual não vejo o fundo.